Os 6 vetores da inovação HIP e as instituições que aprendem

Cris Ferri
5 min readJul 8, 2020

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Nesse texto, vou sintetizar o modelo de inovação HIP — Hexágono da Inovação Pública, de Raúl Olivan, que envolve 6 vetores básicos: abertura, transversalidade, rapidez, prototipação, colaboração e tecnologia. Estive participando do evento de lançamento e do rápido debate, que aconteceu no dia 2 de julho, desse projeto capitaneado pela Secretaria-Geral Ibero-americana. Você pode assistir à apresentação no vídeo abaixo.

Raúl nos brinda com um modelo de inovação aberta, adaptável a diversos contextos e realidades, com o objetivo de impulsionar o trabalho em rede nas instituições públicas. Mas, antes de adentrarmos nisso, segure as pontas aí e acompanhe uma história para você entender mais a fundo essa forma de inovar.

Estávamos em 2014 e o Labhacker, o laboratório de inovação aberta da Câmara dos Deputados, tinha acabado de ser criado. Como ajudei a fundá-lo, o Presidente e o Diretor-Geral da Câmara me convidaram a dirigi-lo, onde fiquei como tal até final de 2017.

Confesso que à época não sabíamos direito como promover experimentos abertos de inovação. Praticamente não tínhamos labs de inovação pública no Brasil. Essa fase inicial foi, portanto, de muita experimentação, pesquisa e conversas produtivas.

Foi nesse ano que conheci Pablo Pascale da Secretaria-Geral Ibero-americana, organismo internacional que realiza uma série de atividades de conexão entre autoridades, sociedade civil e acadêmicos da região. Pablo, um uruguaio bom de prosa, diplomático nato e visionário, vinha germinando um projeto de estímulo a laboratórios de inovação cidadã na área, ou seja, América Latina, Portugal e Espanha.

Daí surgiram os LABICS, programa de encontros e maratonas de projetos que conectou inovadores de tudo quanto é jeito, artistas, servidores públicos, tecnólogos, antropólogos, hackers, acadêmicos, etc. Num desses encontros, conheci Raúl Olivan, que era o fundador e coordenador do Saragoza Activa, um lab de inovação da linda e quente cidade da Espanha.

Estive lá conhecendo o projeto em 2017, se não me engano. Patrocinado pela prefeitura de Saragoza, Raúl e seus colegas adaptaram uma fábrica secular e abandonada de açúcar em um espaço público de inovação para a cidade.

E ali implementou um modelo de trabalho em rede, com envolvimento da comunidade local de inovadores, empreendedores, artistas, tecnólogos, pesquisadores, que se baseou (e baseia) muito em aprendizagem maker, conexão transdisciplinar e prototipação rápida.

Fiquei impressionado com o que vi. Entre várias atividades, havia um fablab (oficina aberta para produção de experimentos práticos, com uso de robótica, impressora 3D, etc) e uma incubadora de startups. Raúl, com sua liderança cativante e energética, sempre trabalhou muito bem a rede de inovação local. Tempos depois foi convidado para cuidar do governo aberto e inovação social na província de Aragón na Espanha, onde está agora.

Eu (à esquerda) e Raul no Saragoza Activa

Bom, chegamos agora a junho de 2020. Alcançamos certa maturidade no ecossistema de laboratórios de inovação na região iberoamericana, depois de muita experimentação e interação nos últimos anos. Estava mesmo na hora de racionalizarmos os trabalhos e avançarmos metodologicamente para vitaminar esse ecossistema e inspirar outras instituições públicas.

Então, explico, com minhas palavras, o que é o HIP. Com um bom embasamento teórico e experiência prática na sua aplicação, o HIP pressupõe que as instituições públicas do nosso tempo se tornem centros de aprendizagem em rede. E devem incluir na sua institucionalidade os infinitos ativos das redes de que participa e fomenta.

Temos aqui um ponto muito importante e gosto bastante deste gráfico do trabalho (abaixo). Segundo Olivan, nossas instituições públicas precisam encontrar seu ponto ótimo entre duas tensões: a) o fator aberto, disruptivo e caótico das redes, b) e a necessidade de institucionalizar seus ativos (com o trabalho em rede) em ações e entregas concretas, que resultem em melhorias para o cidadão.

Para isso, devemos fugir de dois extremos. O primeiro é o que acontece hoje: nossas instituições públicas estão muito dominadas pela forma hierárquica, centralizada e focada em controle, por um lado; e pouco ou nada permeáveis às redes externas de inovação.

O outro problema é se perder nos debates infinitos e interações incessantes das redes, sem resultados práticos. Há que se encontrar em cada instituição pública seu meio-termo entre esses dois pólos.

Que mais, Cris? Daí vem o principal, a implementação do Modelo HIP de inovação, baseado no hexágono de inovação pública (abaixo).

Raul utilizou, entre outros estudos, o mapeamento realizado pela Nesta com base no ecossistema de inovação. Nesta é um espécie de think-tank britânico voltado para a inovação de forma geral. Além de projetos, produzem estudos diversos, com visualizações incríveis, por sinal, sobre diversos aspectos relacionados à inovação.

O ecossistema de inovação mapeado pelo NESTA

Raul adaptou os 105 métodos e ferramentas de inovação desse trabalho da NESTA, para seu modelo dos 6 vetores da inovação, que trazem princípios fundamentais de trabalho em rede:

  1. OPEN: transparência, trabalho com redes externas, crescimento de rede, dinâmicas bidirecionais e fluxo circular.
  2. TRANS: aleatoriedade, conectividade, produtividade relacional, atalhos, superação de nós críticos.
  3. FAST: encurtamento de distâncias, fortalecimento de laços, discussão limitada, pragmatismo.
  4. PROTO: alinhamento de visões, experimentação, pragmatismo, eficiência.
  5. CO: densidade de rede, sincronia, criação de comunidade, horizontalidade, inteligência coletiva.
  6. TEC: conectividade, ativação de hubs, aumento da densidade de rede, ganho de escala, diminuição de distâncias.

Há duas ferramentas práticas ainda não totalmente prontas mas bem interessantes que derivam e instrumentalizam o modelo dos 6 vetores. Com a ajuda do parceiro Adán Piñero Alquegui, Raul viabilizou um simulador em vídeo que mostra na linha do tempo os efeitos do trabalho em rede de uma organização.

Simulador do HIP

A outra ferramenta é um questionário para a organização poder avaliar o grau de inovação aberta que realiza de acordo com os 6 vetores do hexágono. Ainda em gestação, Raúl me disse que estão trabalhando num formulário eletrônico, ou algo assim. Quando tivermos isso, a organização, ao final do questionário, vai receber o gráfico do hexágono com o ‘grau de inovação’ de acordo com essa mensuração proposta.

Exemplo de aplicação do HIP para medir os vetores de uma metodologia de inovação, a Teoria U.

Em suma, o HIP, hexágono de 6 vetores, é mais uma perspectiva para entendermos, medirmos e implementarmos inovação em organizações públicas. Acho a proposta excelente, viável e testada. No mínimo, serve de ótimo norte para aqueles perdidos no oceano azul da inovação.

Você pode baixar a versão executiva do trabalho aqui: HIP-Hexágono de Inovação pública

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Cris Ferri
Cris Ferri

Written by Cris Ferri

Gestor e professor de inovação na área pública, curioso incansável, eterno inquieto, apreciador da boa cerveja e motorista de filhos.

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