Por que maratonas hackers ainda são importantes?
Passei o final de semana na agradável Natal, no Rio Grande do Norte. O que me trouxe lá não foram os camarões e as praias, mas o Hackfest 2019, uma maratona hacker destinada ao desenvolvimento de aplicações para a transparência, eficiência do Estado e o combate à corrupção. Fui chamado para fazer uma fala que intitulei de “Como abrir um parlamento?”, mostrando a nossa experiência nos últimos anos hackeando a Câmara numa perspectiva inside machine.
Primeiro ponto que gostei: foi realizada pelo Ministério Público do Rio Grande do Norte. Num momento em que se critica bastante a falta de transparência do sistema de justiça brasileiro, o MPRN mostra pioneirismo, e serve como exemplo. Parabéns a todos os envolvidos, principalmente ao Promotor Rafael Galvão, organizador do evento.
Já coordenei três hackathons e participei de uma infinidade de outros, seja como júri, mentor ou mero observador. Confesso que passei um tempo desanimado com hackathons por quatro motivos:
a. É fogo de palha. Depois de passados os dias da maratona, as coisas tendem a voltar ao normal.
b. Os projetos e aplicativos geralmente não dão em nada. Poucos prosperam, muitos ficam incompletos e alimentam o chamado cemitério de aplicativos.
c. Consequentemente, pouco se aproveitam os resultados do hackathon para instituição promotora do evento.
d. E meio que a moda já passou.
Mas tenho mudado minha cabeça pessimista em relação a maratonas hackers nos últimos tempos e essa ida para o Hackfest em Natal contribuiu para isso. Na verdade, temos de ver as coisas numa perspectiva mais abrangente. Hoje identifico outras vantagens de hackathons, e tenho como base minha própria experiência aqui na Câmara:
a. Mais importante que os aplicativos é o espírito de colaboração que se experimenta, vivencia num hackathon. Ver gestores, servidores, políticos, promotores, hackers, acadêmicos trocando ideias já é gratificante por si mesmo.
Pude ver isso muito forte na Câmara no nosso primeiro hackathon, em 2013. Presenciar o Presidente da Comissão de Orçamento sugerindo uma forma mais eficiente de monitorar as emendas orçamentárias para um hacker participante foi muito instigante.
b. A possibilidade de um hackathon ser uma primeira forma de colaboração que abre as portas para formas mais sustentáveis de inovação aberta naquela instituição pública também merece destaque.
No caso da Câmara, o hackathon de 2013 gerou o Labhacker, um espaço permanente de colaboração entre parlamentares e sociedade para a construção de experimentos de parlamento aberto.
Mas em muitas outras instituições se cria relacionamento de colaboração entre servidores, gestores e sociedade civil, que pode gerar desdobramentos posteriores, como mais abertura de dados e auxílio na construção de portais institucionais, como foi o nosso caso aqui da Câmara também.
c. Além disso, serve de processo de aprendizagem para todo mundo. Servidores e gestores aprendem a conhecer mais o lado da sociedade, e se impressionar com seu poder de realização e colaboração. E cidadãos começam a conhecer mais a fundo a complexidade da máquina pública.
Claro que existem formatos de hackathons que dão mais certo do que outros, e tenho meus pitacos sobre isso, pois tudo tem de evoluir. Mas isso seria assunto para outro blog.
Bora fazer hackathon, então, meu povo!